quarta-feira, 8 de abril de 2015

Supercondutores: O que são, como surgiu, onde são aplicados e como funcionam.

Boa noite caros amantes da tecnologia,
Hoje vamos falar de um assunto do qual há uma enorme área de pesquisa praticamente já estruturada no meio acadêmico-cientifico: OS SUPERCONDUTORES.

História

Em 1908, o holandês Heike Kamerlingh Onnes conseguiu a liquefação do hélio, atingindo uma temperatura de aproximadamente 4,1 K (–268,9 ºC). Onnes então passou a pesquisar o comportamento de alguns materiais a essa temperatura, sendo que três anos depois, em 1911, descobriu que o mercúrio apresentava resistividade elétrica nula para a temperatura do hélio liquido (figura 1.1).
Figura 1.1 – Resistência em ohms de um espécime de mercúrio em função da temperatura absoluta. Este gráfico marcou a descoberta da supercondutividade.
     Onnes descobriu que para uma temperatura diferente do zero absoluto, a resistividade elétrica de alguns materiais era nula. Chamou-se essa temperatura de temperatura crítica (Tc) e o estado atingido pelo material de estado supercondutor. A partir daí surge então uma nova área de estudos da Física da Matéria Condensada atraindo o interesse de muitos pesquisadores. Isto se tornou ainda mais evidente após a descoberta em 1933, por Meissner e Ochsenfeld, de outra importante propriedade de um material no estado supercondutor: o diamagnetismo perfeito. Eles descobriram que um campo magnético externo aplicado em um material no estado supercondutor é expelido de seu interior. Essa propriedade passou a ser chamada de Efeito Meissner (figura 1.2 e video abaixo).
Figura 1.2 – Material primeiramente em seu estado normal submetido a aplicação de um campo magnético externo, onde as linhas de campo magnético penetram em seu corpo. Na segunda etapa o material está no estado supercondutor, sendo que o campo magnético não penetra em seu corpo.
    Em 1935 Fritz e Heinz London desenvolveram uma primeira descrição teórica para a condutividade perfeita e o diamagnetismo perfeito nos supercondutores baseando-se em relações eletrodinâmicas. Em 1950 London mostra que esta teoria pode ser originada considerando a supercondutividade como um fenômeno onde o momento dos portadores de carga tem ordem de longo alcance.    Ginzburg e Landau combinaram a eletrodinâmica dos supercondutores de London com a teoria de transições de fases de Landau, criando uma descrição fenomenológica muito mais poderosa para a supercondutividade. Em 1957, Bardeen, Cooper e Schrieffer propõem uma teoria microscópica para a supercondutividade, conhecida como teoria BCS, onde é assumida a formação de pares de elétrons ligados que carregam a supercorrente e a existência de um gap de energia entre os estados normal e supercondutor. Os resultados de Ginzburg e Landau são bem descritos no formalismo da teoria BCS. No mesmo ano, utilizando-se da teoria de Ginzburg-Landau, Abrikosov mostra que existe uma segunda classe de supercondutores onde um campo magnético suficientemente forte pode penetrar na amostra como tubos de fluxo quantizado que tomam a forma de linhas de vórtice. A minimização da energia de interação entre os vórtices mostra um estado de equilíbrio em forma de uma rede triangular (ou hexagonal) denominada rede de Abrikosov. Esses novos supercondutores são chamados de supercondutores do tipo II. Na presença dos vórtices, as propriedades de diamagnetismo e condutividade perfeita são reduzidas. Os supercondutores do tipo II possuem uma ampla região no diagrama de fases onde o campo magnético externo penetra no interior do material formando o que foi chamado de estado misto.
    O descobrimento em 1986 dos supercondutores de alta temperatura crítica por Bednorz e Muller despertou um grande interesse pela física dos vórtices. A nova fenomenologia se combinou com importantes avanços alcançados na física estatística de sistemas desordenados. Isto conduziu a uma revisão completa das fases de vórtices para supercondutores com distintos tipos de desordem.  As propriedades dinâmicas dos vórtices em torno do equilíbrio são muito diferentes em cada fase e, portanto, servem para caracterizar os novos líquidos e vidros de vórtices.
Ímã flutuando sobre a superfície de um material supercondutor 
Ímã flutuando sobre a superfície de um material supercondutor


O que é

Um material supercondutor é aquele que apresenta, simultaneamente, duas propriedades: baixíssima (quase nula) resistência à passagem de corrente elétrica e diamagnetismo perfeito. Fronteiras 40 Um supercondutor apresenta resistência nula (curva R x T vai para zero na temperatura crítica) e diamagnetismo perfeito (indicado pela seta) denominado de efeito Meissner. Para T > TC, o material está no estado normal e o campo magnético penetra completamente. Para T < TC, o material está no estado supercondutor e o campo magnético é expulso do interior do material. Esta última propriedade é definida como o estado em que acontece a expulsão do interior do material (parcial ou completa) do campo magnético aplicado externamente. É conhecida como efeito Meissner-Hochsenfeld, ou, simplesmente, efeito Meissner. Quando o material supercondutor é esfriado, ele apresenta essas duas propriedades a partir da denominada temperatura crítica (TC), na qual o material transiciona do estado normal para o estado supercondutor. As diferentes aplicações dos supercondutores estão limitadas basicamente pelo valor de TC, pelo valor do campo crítico (HC) e pela densidade de corrente crítica (JC), definidos como os valores de campo e corrente que destroem o estado supercondutor quando esfriado abaixo de TC. Esses três parâmetros definem uma superfície tridimensional dentro da qual o material se encontrará no estado supercondutor, e fora, no seu estado normal. Em um condutor normal (isto é, não supercondutor), uma corrente elétrica diminui rapidamente devido à resistência do material à passagem dessa corrente. Já os materiais supercondutores conduzem eletricidade com praticamente nenhuma resistência, nada da energia elétrica é perdida quando ela flui através de um supercondutor. Assim, em um supercondutor, uma corrente continuaria a fluir para sempre, porque nenhuma resistência lhe é oferecida. Por exemplo, as correntes induzidas em um anel supercondutor persistem por muitos anos sem diminuírem, mesmo não havendo nenhuma bateria alimentando o circuito.

Sistema de cabos supercondutores - Nova Iorque

Aplicações 

Em termos de intensidade de campo magnético, hoje é possível fabricar magnetos enrolados com fio supercondutor que atingem campos de até 60 T (teslas) operando no modo contínuo, e de até 250 T no modo pulsado. Para termos uma idéia da magnitude relativa desses valores, é interessante lembrar que o campo magnético terrestre é da ordem de 5 x 10-5 T. A possibilidade de criar esses campos intensos permite as aplicações em grande escala mencionadas anteriormente. Motores elétricos supercondutores eficientes poderiam ser usados em uma nova classe de transportes terrestres e marítimos, dando lugar a uma nova geração de trens, carros e navios. Um exemplo disto é o MAGLEV anteriormente mencionado. O mesmo consiste em um trem (ainda em fase de desenvolvimento de protótipos) que alcança velocidades da ordem de 600 km/h. Os trens MAGLEV são mais rápidos que os convencionais (como o TGV francês) porque flutuam cerca de dez centímetros acima dos trilhos, em um "colchão magnético". Eliminando as rodas convencionais e fazendo o trem flutuar, o atrito já não limita a velocidade. Nesse caso, apenas existiria o atrito com o ar, que é quase eliminado por meio da aerodinâmica do veículo. No que diz respeito à geração de energia, o uso da supercondutividade pode significar uma enorme economia em comparação com os sistemas convencionais atualmente em uso. Usando supercondutores, é possível desenvolver um campo magnético muito mais forte do que aquele obtido por um gerador convencional, permitindo ao gerador supercondutor ser menor fisicamente para a mesma produção de energia. Outra vantagem é que a resistência elétrica associada ao fluxo de eletricidade nos enrolamentos do motor do gerador convencional não está presente nos supercondutores. Esse aumento na eficiência poderia, no final, reduzir expressivamente os custos, assim como diminuiria a polui- ção química e térmica. Com relação ao armazenamento, não existe ainda nenhum método eficiente para grandes quantidades de eletricidade. Um sistema conhecido como SMES (da sigla em inglês superconducting magnetic energy storage), formado por grandes bobinas supercondutoras subterrâneas, seria capaz de armazenar grandes quantidades de eletricidade por longos períodos de tempo. O SMES seria conectado à rede de energia da comunidade. Durante o Supercondutores período de baixa demanda, a eletricidade em excesso seria Fronteiras 44 Seção transversal de fio multifilamentar utilizado em enrolamento de magnetos supercondutores para diversas aplicações de grande escala. dez|2002 Fronteiras 45 acumulada pelo SMES e, nos períodos de demanda intensa, a eletricidade seria devolvida pelo mesmo, sem nenhum tipo de perda decorrente do armazenamento. O SMES é baseado no fato de que uma corrente elétrica num supercondutor continua circulando indefinidamente (corrente chamada de persistente). No campo da física de altas energias, magnetos supercondutores permitem gerar intensos campos magnéticos; por isso, são aplicados em grandes máquinas, chamadas de aceleradores, utilizadas no estudo das partículas elementares da física. Por exemplo, no acelerador Tevatron, que é um anel de aproximadamente 30 km de diâmetro, há cerca de mil magnetos supercondutores feitos de uma liga de nióbio-titânio e esfriados em hélio líqüido. Os impulsionadores de massa, máquinas que funcionam de maneira análoga aos aceleradores de partículas mencionados anteriormente, seriam utilizados para acelerar objetos macroscópicos até altas velocidades, para então lançá-los com o objetivo de viajar longas distâncias (na Terra ou no Espaço). Os reatores para fusão nuclear são um mecanismo de obtenção de energia que, ao contrário da fisão nuclear, não tem associado qualquer tipo de resíduo radiativo. Assim, será uma das alternativas energéticas do futuro. Qualquer sistema comercial para obter energia por fusão nuclear (por exemplo, aquele conhecido como Tokamak) deverá utilizar eletroímãs supercondutores, porque a energia requerida ao utilizar eletroímãs convencionais seria uma fração significante da energia produzida pelo dispositivo.

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